terça-feira, 1 de outubro de 2013

REFLEXÃO COMO ENTENDER E ACEITAR UMA DOENÇA CRÔNICA INCURÁVEL



LEITURA SEM CONOTAÇÃO PROSELITISTA - FILOSOFANDO SOBRE COMO ENTENDER E ACEITAR UMA DOENÇA CRÔNICA INCURÁVEL


O poder da resignação


Virtude esquecida e pouco trabalhada, a resignação é a base para nossa paz com Deus.
 •  Maroísa F. Pellegrini Baio
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. IX, item 8), há uma instrução de autoria do benfeitor espiritual Lázaro que define essa virtude:
 “a obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração. Ambas são forças ativas, porque levam o fardo das provas que a revolta insensata deixa cair”.

Sobre ela, o benfeitor espiritual André Luiz, afirma que “a rocha garante a vida no vale por resignar-se à solidão”(1), e que “a resignação tem o poder de anular o impacto do sofrimento”(2).

Resignação não é o mesmo que conformismo. 
Enquanto o indivíduo conformista se acomoda às circunstâncias, seja por preguiça, indolência, orgulho, interesses pessoais ou, até mesmo, por ignorância, aquele que é resignado procura se adequar sempre aos desígnios divinos e aos ensinamentos de Jesus, sem deixar de se melhorar, aperfeiçoando a vida em torno de si e daqueles com quem vive.

Os revoltados ou indignados contra tudo e contra todos, que vivem gritando “Eu não aceito!”, acabam por se tornar antipáticos aos outros, além de correr o risco de prejudicar a própria saúde, física e mental. 
Já os submissos a Deus, confiantes em Sua Bondade e Misericórdia, acabam por conquistar a simpatia e a admiração dos outros, tornando-se, eles mesmos, exemplos dessa virtude.

Ser resignado é estar em paz com Deus, e estamos em paz com Ele quando nos submetemos, confiantes, aos Seus desígnios.

O Espiritismo pode contribuir para a aquisição dessa virtude tão necessária ao nosso equilíbrio? Certamente que sim! 
A Doutrina Espírita esclarece consolando e consola esclarecendo, ensinando que:
As aflições da vida podem ter suas causas na existência atual, resultantes de nossa imprevidência, ou então, como consequência natural de nossas faltas em existências anteriores.
O sofrimento é inerente ao nosso atual estágio evolutivo.
Toda dor tem uma causa justa, porque Deus é justo, e um objetivo útil, que é o nosso aperfeiçoamento espiritual.
Todos os sofrimentos tais como as decepções, as dores físicas, a perda de entes queridos, a ruína financeira, encontrarão sua consolação na fé no futuro e na confiança na justiça de Deus que Jesus veio ensinar à humanidade sofredora.
A mudança na maneira de encarar a vida presente é necessária para direcionar nossas aspirações para a vida futura que a todos aguarda.
A brevidade e a transitoriedade de tudo o que se relaciona à vida material nos conduzem ao desprendimento dos bens materiais.
O concurso de bondosos amigos espirituais não nos faltará quando buscarmos o amparo divino através da oração.
A caridade é recurso salvador, pois amenizando a dor do próximo, as nossas serão igualmente amainadas.
A resignação não é possível sem uma fé sólida e esclarecida, que encoraja e acalenta. É o que ensina o benfeitor espiritual Emmanuel(3): “Falta-nos reconhecer – mas reconhecer claramente – que Deus está em nós, conosco, junto de nós, ao redor de nós e que, por isso mesmo, é imperioso, de nossa parte, aceitar as lições difíceis, mas sempre abençoadas do sofrimento, nas quais, a pouco e pouco, obteremos a coragem suprema da fé invencível”.
Allan Kardec nos legou preciosas orientações em torno da resignação, inclusive no sentido de rogarmos aos Bons Espíritos o auxílio necessário para a conquista dessa virtude. Sim, isso mesmo! A oração é necessária quando a revolta, disfarçada às vezes como indignação, de forma sutil, começa a se instalar em nosso coração, mesmo diante dos fatos mais corriqueiros.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo dedicado às aflições da vida (cap. V), em suas considerações sobre os motivos para a resignação (item 13), Kardec afirma que podemos amenizar ou aumentar o amargor das nossas provas conforme o modo de encarar a vida terrena:
“O resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções. Ele adquire, assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma.”
Na sequência de suas considerações (item 14), ele destaca a importância da resignação, acompanhada da fé no futuro, como sendo a melhor vacina contra duas calamidades morais – o suicídio e a loucura:
“A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio.”
Já no capítulo dedicado às preces, Kardec incluiu três sugestões de rogativas para solicitarmos, aos Bons Espíritos, a bênção da resignação nas situações aflitivas da vida, (cap. XXVIII, itens 30-33), ensinando-nos a procurar as causas das nossas aflições, se elas são o resultado de nossa imprudência, ou se não dependem de nossas ações na existência atual:
“Em todos os casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribulações da vida, se quisermos que elas nos sejam contadas e que se apliquem sobre nós estas palavras do Cristo: bem-aventurados os que sofrem.”
Bela beleza das preces apresentadas, vale destacar um trecho da primeira delas (item 30): “... Aceito a aflição que estou provando como uma expiação para as minhas faltas passadas e uma prova com vistas ao futuro. Bons Espíritos que me protegem, dai-me a força de a suportar sem murmurar; fazei que eu a encare como uma advertência providencial; que ela enriqueça a minha experiência; que abata o meu orgulho e diminua a minha ambição, a minha tola vaidade e o meu egoísmo; que contribua, enfim, para o meu adiantamento”.
Com a revolta diante das aflições da vida, sobretudo aquelas que não conseguimos evitar, não alcançaremos a vitória espiritual sobre nós mesmos, correndo o risco de ter que repetir essas experiências, talvez em condições mais difíceis, em futuras existências. Porém, com a resignação, nossas dores serão como os primeiros avisos de que nossa alegria espiritual está a caminho.
Em suas lições aprendidas na escola da vida, minha mãe dizia que em muitas situações a única alternativa que nos resta é a resignação.
Considerando que tudo se resume numa única palavra – aceitação – o benfeitor espiritual Emmanuel mais uma vez destaca a necessidade da confiança em Deus, sobretudo nos momentos difíceis(3):
“Devemos confiar em Deus nos dias de céu azul, mas igualmente confiar em Sua Divina Providência nas horas da tempestade. Acolher a dor como sendo a preparação da alegria. Atravessar a provação, entesourando experiência. Observar as leis da vida e acatá-las, compreendendo que a dificuldade é instrução imprescindível.”
Finalizando essas considerações, recordamos o poeta fluminense Casimiro Cunha (1880-1914). Filho de pais muito pobres, ficou órfão de pai aos sete anos e estudou apenas o curso primário; cego de um olho aos 14, devido a um acidente, perdeu completamente a outra visão aos 16 anos. Casou-se aos 29 anos e teve dois filhos. Espírita convicto, era portador de grande jovialidade, um exemplo de resignação e força moral, apesar da cegueira e dos reduzidos recursos materiais. Pela psicografia de Chico Xavier, sua doce poesia transformou-se em mensageira do Evangelho e é com um de seus versinhos do livro Gotas de luz que finalizamos: “Em teu combate no bem, / Se desejares vencer, / Aprende resignado / A tolerar e a sofrer”.

1. XAVIER, Francisco Cândido. Agenda cristã. Espírito André Luiz. Rio de Janeiro, RJ. FEB, 1981. 21 ed. Cap. 35.
2. XAVIER, F. C; BACCELLI, C. A. Brilhe vossa luz. Espíritos diversos. Araras, SP. IDE, 1987. Cap. 6.
3. ________. Bênção de paz. Pelo Espírito Emmanuel. São Bernardo do Campo, SP. GEEM, 2010. 15 ed. Cap. 51.

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