LEITURA SEM CONOTAÇÃO PROSELITISTA - FILOSOFANDO SOBRE COMO ENTENDER E ACEITAR UMA DOENÇA CRÔNICA INCURÁVEL
O poder da resignação
Virtude esquecida e pouco trabalhada, a resignação é a base para nossa paz com Deus.
• Maroísa F. Pellegrini Baio
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. IX, item 8), há uma instrução de autoria do benfeitor espiritual Lázaro que define essa virtude:
“a obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração. Ambas são forças ativas, porque levam o fardo das provas que a revolta insensata deixa cair”.
Sobre ela, o benfeitor espiritual André Luiz, afirma que “a rocha garante a vida no vale por resignar-se à solidão”(1), e que “a resignação tem o poder de anular o impacto do sofrimento”(2).
Resignação não é o mesmo que conformismo.
Enquanto o indivíduo conformista se acomoda às circunstâncias, seja por preguiça, indolência, orgulho, interesses pessoais ou, até mesmo, por ignorância, aquele que é resignado procura se adequar sempre aos desígnios divinos e aos ensinamentos de Jesus, sem deixar de se melhorar, aperfeiçoando a vida em torno de si e daqueles com quem vive.
Os revoltados ou indignados contra tudo e contra todos, que vivem gritando “Eu não aceito!”, acabam por se tornar antipáticos aos outros, além de correr o risco de prejudicar a própria saúde, física e mental.
Já os submissos a Deus, confiantes em Sua Bondade e Misericórdia, acabam por conquistar a simpatia e a admiração dos outros, tornando-se, eles mesmos, exemplos dessa virtude.
Ser resignado é estar em paz com Deus, e estamos em paz com Ele quando nos submetemos, confiantes, aos Seus desígnios.
O Espiritismo pode contribuir para a aquisição dessa virtude tão necessária ao nosso equilíbrio? Certamente que sim!
A Doutrina Espírita esclarece consolando e consola esclarecendo, ensinando que:
As aflições da vida podem ter suas causas na existência atual, resultantes de nossa imprevidência, ou então, como consequência natural de nossas faltas em existências anteriores.
O sofrimento é inerente ao nosso atual estágio evolutivo.
Toda dor tem uma causa justa, porque Deus é justo, e um objetivo útil, que é o nosso aperfeiçoamento espiritual.
Todos os sofrimentos tais como as decepções, as dores físicas, a perda de entes queridos, a ruína financeira, encontrarão sua consolação na fé no futuro e na confiança na justiça de Deus que Jesus veio ensinar à humanidade sofredora.
A mudança na maneira de encarar a vida presente é necessária para direcionar nossas aspirações para a vida futura que a todos aguarda.
A brevidade e a transitoriedade de tudo o que se relaciona à vida material nos conduzem ao desprendimento dos bens materiais.
O concurso de bondosos amigos espirituais não nos faltará quando buscarmos o amparo divino através da oração.
A caridade é recurso salvador, pois amenizando a dor do próximo, as nossas serão igualmente amainadas.
A resignação não é possível sem uma fé sólida e esclarecida, que encoraja e acalenta. É o que ensina o benfeitor espiritual Emmanuel(3): “Falta-nos reconhecer – mas reconhecer claramente – que Deus está em nós, conosco, junto de nós, ao redor de nós e que, por isso mesmo, é imperioso, de nossa parte, aceitar as lições difíceis, mas sempre abençoadas do sofrimento, nas quais, a pouco e pouco, obteremos a coragem suprema da fé invencível”.
Allan Kardec nos legou preciosas orientações em torno da resignação, inclusive no sentido de rogarmos aos Bons Espíritos o auxílio necessário para a conquista dessa virtude. Sim, isso mesmo! A oração é necessária quando a revolta, disfarçada às vezes como indignação, de forma sutil, começa a se instalar em nosso coração, mesmo diante dos fatos mais corriqueiros.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo dedicado às aflições da vida (cap. V), em suas considerações sobre os motivos para a resignação (item 13), Kardec afirma que podemos amenizar ou aumentar o amargor das nossas provas conforme o modo de encarar a vida terrena:
“O resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções. Ele adquire, assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma.”
Na sequência de suas considerações (item 14), ele destaca a importância da resignação, acompanhada da fé no futuro, como sendo a melhor vacina contra duas calamidades morais – o suicídio e a loucura:
“A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio.”
Já no capítulo dedicado às preces, Kardec incluiu três sugestões de rogativas para solicitarmos, aos Bons Espíritos, a bênção da resignação nas situações aflitivas da vida, (cap. XXVIII, itens 30-33), ensinando-nos a procurar as causas das nossas aflições, se elas são o resultado de nossa imprudência, ou se não dependem de nossas ações na existência atual:
“Em todos os casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribulações da vida, se quisermos que elas nos sejam contadas e que se apliquem sobre nós estas palavras do Cristo: bem-aventurados os que sofrem.”
Bela beleza das preces apresentadas, vale destacar um trecho da primeira delas (item 30): “... Aceito a aflição que estou provando como uma expiação para as minhas faltas passadas e uma prova com vistas ao futuro. Bons Espíritos que me protegem, dai-me a força de a suportar sem murmurar; fazei que eu a encare como uma advertência providencial; que ela enriqueça a minha experiência; que abata o meu orgulho e diminua a minha ambição, a minha tola vaidade e o meu egoísmo; que contribua, enfim, para o meu adiantamento”.
Com a revolta diante das aflições da vida, sobretudo aquelas que não conseguimos evitar, não alcançaremos a vitória espiritual sobre nós mesmos, correndo o risco de ter que repetir essas experiências, talvez em condições mais difíceis, em futuras existências. Porém, com a resignação, nossas dores serão como os primeiros avisos de que nossa alegria espiritual está a caminho.
Em suas lições aprendidas na escola da vida, minha mãe dizia que em muitas situações a única alternativa que nos resta é a resignação.
Considerando que tudo se resume numa única palavra – aceitação – o benfeitor espiritual Emmanuel mais uma vez destaca a necessidade da confiança em Deus, sobretudo nos momentos difíceis(3):
“Devemos confiar em Deus nos dias de céu azul, mas igualmente confiar em Sua Divina Providência nas horas da tempestade. Acolher a dor como sendo a preparação da alegria. Atravessar a provação, entesourando experiência. Observar as leis da vida e acatá-las, compreendendo que a dificuldade é instrução imprescindível.”
Finalizando essas considerações, recordamos o poeta fluminense Casimiro Cunha (1880-1914). Filho de pais muito pobres, ficou órfão de pai aos sete anos e estudou apenas o curso primário; cego de um olho aos 14, devido a um acidente, perdeu completamente a outra visão aos 16 anos. Casou-se aos 29 anos e teve dois filhos. Espírita convicto, era portador de grande jovialidade, um exemplo de resignação e força moral, apesar da cegueira e dos reduzidos recursos materiais. Pela psicografia de Chico Xavier, sua doce poesia transformou-se em mensageira do Evangelho e é com um de seus versinhos do livro Gotas de luz que finalizamos: “Em teu combate no bem, / Se desejares vencer, / Aprende resignado / A tolerar e a sofrer”.
1. XAVIER, Francisco Cândido. Agenda cristã. Espírito André Luiz. Rio de Janeiro, RJ. FEB, 1981. 21 ed. Cap. 35.
2. XAVIER, F. C; BACCELLI, C. A. Brilhe vossa luz. Espíritos diversos. Araras, SP. IDE, 1987. Cap. 6.
3. ________. Bênção de paz. Pelo Espírito Emmanuel. São Bernardo do Campo, SP. GEEM, 2010. 15 ed. Cap. 51.
As aflições da vida podem ter suas causas na existência atual, resultantes de nossa imprevidência, ou então, como consequência natural de nossas faltas em existências anteriores.
O sofrimento é inerente ao nosso atual estágio evolutivo.
Toda dor tem uma causa justa, porque Deus é justo, e um objetivo útil, que é o nosso aperfeiçoamento espiritual.
Todos os sofrimentos tais como as decepções, as dores físicas, a perda de entes queridos, a ruína financeira, encontrarão sua consolação na fé no futuro e na confiança na justiça de Deus que Jesus veio ensinar à humanidade sofredora.
A mudança na maneira de encarar a vida presente é necessária para direcionar nossas aspirações para a vida futura que a todos aguarda.
A brevidade e a transitoriedade de tudo o que se relaciona à vida material nos conduzem ao desprendimento dos bens materiais.
O concurso de bondosos amigos espirituais não nos faltará quando buscarmos o amparo divino através da oração.
A caridade é recurso salvador, pois amenizando a dor do próximo, as nossas serão igualmente amainadas.
A resignação não é possível sem uma fé sólida e esclarecida, que encoraja e acalenta. É o que ensina o benfeitor espiritual Emmanuel(3): “Falta-nos reconhecer – mas reconhecer claramente – que Deus está em nós, conosco, junto de nós, ao redor de nós e que, por isso mesmo, é imperioso, de nossa parte, aceitar as lições difíceis, mas sempre abençoadas do sofrimento, nas quais, a pouco e pouco, obteremos a coragem suprema da fé invencível”.
Allan Kardec nos legou preciosas orientações em torno da resignação, inclusive no sentido de rogarmos aos Bons Espíritos o auxílio necessário para a conquista dessa virtude. Sim, isso mesmo! A oração é necessária quando a revolta, disfarçada às vezes como indignação, de forma sutil, começa a se instalar em nosso coração, mesmo diante dos fatos mais corriqueiros.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo dedicado às aflições da vida (cap. V), em suas considerações sobre os motivos para a resignação (item 13), Kardec afirma que podemos amenizar ou aumentar o amargor das nossas provas conforme o modo de encarar a vida terrena:
“O resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções. Ele adquire, assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma.”
Na sequência de suas considerações (item 14), ele destaca a importância da resignação, acompanhada da fé no futuro, como sendo a melhor vacina contra duas calamidades morais – o suicídio e a loucura:
“A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio.”
Já no capítulo dedicado às preces, Kardec incluiu três sugestões de rogativas para solicitarmos, aos Bons Espíritos, a bênção da resignação nas situações aflitivas da vida, (cap. XXVIII, itens 30-33), ensinando-nos a procurar as causas das nossas aflições, se elas são o resultado de nossa imprudência, ou se não dependem de nossas ações na existência atual:
“Em todos os casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribulações da vida, se quisermos que elas nos sejam contadas e que se apliquem sobre nós estas palavras do Cristo: bem-aventurados os que sofrem.”
Bela beleza das preces apresentadas, vale destacar um trecho da primeira delas (item 30): “... Aceito a aflição que estou provando como uma expiação para as minhas faltas passadas e uma prova com vistas ao futuro. Bons Espíritos que me protegem, dai-me a força de a suportar sem murmurar; fazei que eu a encare como uma advertência providencial; que ela enriqueça a minha experiência; que abata o meu orgulho e diminua a minha ambição, a minha tola vaidade e o meu egoísmo; que contribua, enfim, para o meu adiantamento”.
Com a revolta diante das aflições da vida, sobretudo aquelas que não conseguimos evitar, não alcançaremos a vitória espiritual sobre nós mesmos, correndo o risco de ter que repetir essas experiências, talvez em condições mais difíceis, em futuras existências. Porém, com a resignação, nossas dores serão como os primeiros avisos de que nossa alegria espiritual está a caminho.
Em suas lições aprendidas na escola da vida, minha mãe dizia que em muitas situações a única alternativa que nos resta é a resignação.
Considerando que tudo se resume numa única palavra – aceitação – o benfeitor espiritual Emmanuel mais uma vez destaca a necessidade da confiança em Deus, sobretudo nos momentos difíceis(3):
“Devemos confiar em Deus nos dias de céu azul, mas igualmente confiar em Sua Divina Providência nas horas da tempestade. Acolher a dor como sendo a preparação da alegria. Atravessar a provação, entesourando experiência. Observar as leis da vida e acatá-las, compreendendo que a dificuldade é instrução imprescindível.”
Finalizando essas considerações, recordamos o poeta fluminense Casimiro Cunha (1880-1914). Filho de pais muito pobres, ficou órfão de pai aos sete anos e estudou apenas o curso primário; cego de um olho aos 14, devido a um acidente, perdeu completamente a outra visão aos 16 anos. Casou-se aos 29 anos e teve dois filhos. Espírita convicto, era portador de grande jovialidade, um exemplo de resignação e força moral, apesar da cegueira e dos reduzidos recursos materiais. Pela psicografia de Chico Xavier, sua doce poesia transformou-se em mensageira do Evangelho e é com um de seus versinhos do livro Gotas de luz que finalizamos: “Em teu combate no bem, / Se desejares vencer, / Aprende resignado / A tolerar e a sofrer”.
1. XAVIER, Francisco Cândido. Agenda cristã. Espírito André Luiz. Rio de Janeiro, RJ. FEB, 1981. 21 ed. Cap. 35.
2. XAVIER, F. C; BACCELLI, C. A. Brilhe vossa luz. Espíritos diversos. Araras, SP. IDE, 1987. Cap. 6.
3. ________. Bênção de paz. Pelo Espírito Emmanuel. São Bernardo do Campo, SP. GEEM, 2010. 15 ed. Cap. 51.
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